Quinta-feira, 20 de março de 2025, 9:05a.m., deu uma baita vontade de tomar outro café…
Daqui a dois dias eu farei 31 anos. Parece que foi ontem quando eu estava com 17 anos saindo do interior de Minas Gerais para ir morar em Goiânia. Muita coisa aconteceu nesses 14 anos. O que estranho é que parece que o tempo passou mais rápido dos 17 aos 31 do que dos 0 aos 17.
É estranha essa sensação de estar envelhecendo. As vezes me pego pensando que não tenho a idade que o meu documento diz. Eu raramente reparo em mim quando olho no espelho. Talvez, seja por isso que estou sempre com uma aparência de cachorro que caiu do caminhão de mudança.
Tenho cabelos brancos desde os 13 anos. É hereditário, minha mãe também tinha. Mas agora, os pelos do me projeto de barba estão nascendo brancos. Quando o cabelo está grande, percebo o quanto os fios brancos aumentaram. Sem falar das entradas.
Até os meus 25 anos eu achava que podia fazer tudo. Que nada iria me parar. Me casei e fui padrasto com essa idade. Meu filho mais velho, nasceu quando eu tinha 26 anos. De lá para cá, eu envelheci muito mais. Para mim, se você olha para um pai ou uma mãe e eles não estão com a aparência de cansados satisfeitos, estão negligenciando a parentalidade.
Eu chamo de “cansados satisfeitos” os pais que apesar de todo o cansaço, se ocupam em estar presentes e se conectarem com seus filhos. Após um dia cansativo de trabalho, sentar no chão para brincar, assistir pela milésima vez o mesmo desenho, conversar sobre medos, sonhos e planos… é cansativo, mas isso é satisfatório.
Não culpo os pais que não se dedicam a isso. Esses estão cansados e se satisfazem longe do cuidado com os filhos. Isso também é necessário. Porém, não deveria ser a única forma de satisfação.
Tenho observado, que para algumas famílias os filhos são como troféus ou pior, como pets. Se bem que alguns pets são tratados melhor do que algumas crianças e adolescentes. Percebo uma ostentação e exibição dos filhos, porém, é só para sair bem na foto. Nem todos os pais estão preparados para esse oficio.
Acredito que ser pai é uma missão. Ela é dividida em duas décadas. A primeira (dos 0 aos 10 anos) é a mais importante. Ela dará a base para a segunda. Dos 10 aos 20 anos, os erros cometidos na primeira década ainda podem ser corrigidos.
Sinto que a vida seria mais fácil se a maturidade acompanhasse o nosso envelhecimento. Dessa forma, quanto mais experientes os pais mais atentos estariam as necessidades dos filhos. Doce ilusão.
A cada ano que passa percebo que estou amadurecendo como pai. As leituras, estudos, formações, atendimentos, mentorias e compartilhamento de experiências com outros pais tem promovidos grandes mudanças. Faz 3 anos que eu entendi que para melhorar como pai eu precisa melhorar como ser humano.
Sempre fui uma boa pessoa, mas preciso ser alguém melhor para abrir caminho para meus filhos. Esse aprendizado só vem com autoconhecimento e acolhimento das minhas necessidades. É triste dizer isso, mas estou longe de ser o pai que meus filhos merecem. Essa é a razão de estar sempre atento ao que posso melhorar. Principalmente observando como está a minha relação com eles.
O comportamento dos meus filhos é a minha bússola. Sempre que noto algo fora do comum, procuro para e me perguntar: “o que ele está tentando me comunicar com isso?”.
A comunicação da criança se dá pelos seus ritmos biológicos. A comunicação do adolescente além dos ritmos biológicos, se dá pela evitação, afastamento, silêncio, humores, explosões, medos e angustias.
Não é fácil perceber isso. É preciso estar presente físico e afetivamente para perceber o que nossos filhos estão nos comunicando. Quanto mais praticarmos, melhor compreenderemos. Isso não é sobre a idade, mas sobre a prática da compassividade.
Seria tão mais simples voltar a ser filho e deixar que meus pais se ocupassem de tudo isso. Ser pai dá trabalho, o bom mesmo é ser filho. Ainda existem pais que não saíram dessa posição e estão competindo com seus filhos.
Quando saímos da nossa posição para ocupar o lugar dos nossos filhos, o sistema família pode colapsar. Inverter a ordem de atendimento das necessidades é uma forma sutil de violência contra os filhos. Não são eles que precisam atender as nossas necessidades. É o contrário.
Acredito que cada pai e/ou mãe deve ser responsável pelo atendimentos das próprias necessidades. Isso não significa atropelar as necessidades dos filhos. Quando não puder atender, preciso nomear e validar as necessidades deles.
Numa escala de prioridade, nossos filhos tem menos recursos internos para atender as próprias necessidades. Por consequência, por ter mais recursos atendo as minhas e as deles até que eles possam fazer isso por eles mesmo.
Quanto mais consciente me torno disso, mais a minha aparência de cansado satisfeito passa a fazer sentido. Faltam 15 anos para concluir a missão de duas décadas. Quando essa hora chegar, terei 46 anos. Torço para que eu torne o pai que eu gostaria de ter.